Discurso Original impresso na A Liahona, nov. 2006, pp. 62, 67-68
Meus queridos irmãos e irmãs, tanto os que estão ao alcance de minha visão quanto os que se acham reunidos no mundo inteiro, busco sua fé e orações ao atender à designação e ao privilégio de dirigir-me a vocês.
Em 1959, não muito tempo depois de iniciar meu serviço como presidente da Missão Canadense, sediada em Toronto, Ontário, Canadá, conheci N. Eldon Tanner, um proeminente canadense que, apenas dois meses depois, seria chamado como Assistente do Quorum dos Doze Apóstolos, logo a seguir, como membro do Quórum dos Doze e, depois, como conselheiro do quatro Presidente da Igreja.
Quando conheci o Presidente Tanner, ele era presidente da grande Trans-Canadá Pipelines Ltd. e presidente da Estaca Canadá Calgary. No Canadá, era conhecido como “Mister Integridade”. Naquele primeiro encontro falamos, entre outros assuntos, do rigoroso inverno canadense, no qual as tempestades eram violentas, as temperaturas caíam bem abaixo da de congelamento durante semanas seguidas, e os ventos glaciais baixavam ainda mais as temperaturas. Perguntei ao Presidente Tanner por que as estradas e rodovias do oeste do Canadá basicamente permaneciam intactas durante tais invernos, mostrando pouco ou nenhum sinal de rachaduras ou rompimentos, enquanto a superfície das estradas de muitas áreas, onde o inverno é menos frio e rigoroso, apresenta rachaduras, rompimentos e buracos.
Ele disse: “A resposta está na profundidade da base dos materiais de pavimentação. Para que eles permaneçam firmes e não se rompam, é necessário aprofundar muito as camadas da base. Quando essas não são profundas o bastante, a superfície não suporta as temperaturas extremas”.
Com o passar dos anos, pensei com freqüência nessa conversa e na explicação do Presidente Tanner, pois reconheci em suas palavras uma grandiosa aplicação para nossa vida. Simplificando, se não tivermos um firme alicerce de fé e um testemunho sólido da verdade, poderá ser difícil enfrentar as tempestades violentas e os ventos glaciais da adversidade que inevitavelmente atingem cada um de nós.
A mortalidade é um período de testes, um período para nos mostrarmos dignos de retornar à presença de nosso Pai Celestial. Para sermos testados, precisamos enfrentar desafios e dificuldades. Eles podem nos destruir, e a superfície de nossa alma poderá rachar e desmoronar — isto é, se o nosso alicerce de fé e o nosso testemunho da verdade não estiverem firmemente enraizados em nós.
Podemos contar com a fé e o testemunho de outros, por certo tempo. No final, é preciso que o nosso próprio alicerce esteja firme e profundamente enraizado, ou seremos incapazes de suportar as tempestades da vida, que certamente virão. Tais tempestades chegam-nos de várias formas. Podemos defrontar-nos com a tristeza e o sofrimento de ver um filho obstinado preferir afastar-se do caminho que leva à verdade eterna e divagar pelas ladeiras escorregadias do erro e da desilusão. A doença pode acometer-nos ou a um ente querido, trazendo sofrimento e, às vezes, a morte. Acidentes podem deixar sua marca cruel na memória ou mesmo ceifar vidas. A morte chega ao idoso, à medida que caminha, vacilante. Sua convocação é ouvida por aqueles que mal chegaram ao meio do caminho na jornada da vida e, com freqüência, silencia o riso das criancinhas.
Às vezes, parece que não há luz no fim do túnel, nenhuma aurora para dispersar a escuridão da noite. Sentimo-nos circundados pela dor de um coração partido, pela desilusão de sonhos despedaçados e pela angústia de esperanças perdidas. Unimo-nos ao apelo bíblico: “Porventura não há bálsamo em Gileade?” (Jeremias 8:22)
Ficamos inclinados a ver nossos infortúnios através do prisma distorcido do pessimismo. Sentimo-nos abandonados, inconsoláveis, sozinhos.
Como podemos edificar um alicerce forte o bastante para suportar as vicissitudes da vida? Como podemos manter a fé e o testemunho que nos serão exigidos para que possamos experimentar a alegria prometida aos fiéis? É necessário um empenho constante e inabalável. A maioria de nós já sentiu uma inspiração tão forte que trouxe lágrimas aos olhos e uma determinação de permanecer sempre fiel. Ouvi a declaração: “Se eu pudesse ao menos ter sentimentos como esses sempre comigo, jamais teria problemas para fazer o que devo”. Tais sentimentos, porém, podem ser fugazes. A inspiração que sentimos durante estas sessões de conferência pode enfraquecer e desaparecer gradualmente, quando vem a segunda-feira e enfrentamos a rotina do trabalho, da escola, de administrar nosso lar e nossa família. Essas coisas podem facilmente desviar nossa mente do que é santo, para o que é material; do que edifica, para o que — se permitirmos — desgasta nosso testemunho, nosso forte alicerce espiritual.
Naturalmente, não vivemos em um mundo onde experimentamos apenas o que é espiritual, mas podemos reforçar nosso alicerce de fé e nosso testemunho da verdade, para que não vacilemos, não fracassemos. Como, talvez se perguntem, podemos obter e manter mais eficazmente o alicerce necessário para sobreviver espiritualmente no mundo em que vivemos?
Permitam-me oferecer-lhes três diretrizes que poderão ajudar-nos nessa busca.
Primeira, fortaleçam seu alicerce por meio da oração. “A oração é o desejo sincero da alma, seja ela proferida ou silenciosa” (“Prayer Is the Soul’s Sincere Desire”, Hymns, nº 145).
Ao orar, que nos comuniquemos realmente com nosso Pai Celestial. É fácil deixar que nossas orações se tornem repetitivas, expressando palavras com pouco ou nenhum conteúdo. Quando nos lembrarmos de que cada um de nós é literalmente filho ou filha espiritual de Deus, não teremos dificuldade para abordá-Lo em oração. Ele nos conhece; Ele nos ama; Ele quer o que é melhor para nós. Que oremos com sinceridade e significado, oferecendo nossa gratidão e pedindo coisas que sentimos serem necessárias. Que escutemos Suas respostas, para que as reconheçamos, quando chegarem. Fazendo assim, seremos fortalecidos e abençoados. Passaremos a conhecê-Lo e a saber o que Ele deseja para a nossa vida. Por conhecê-Lo, por confiar em Sua vontade, nosso alicerce de fé será reforçado. Se alguém dentre nós tem sido lento para dar ouvidos ao conselho de orar sempre, não há melhor hora para começar do que agora. William Cowper declarou: “Satanás treme quando vê ajoelhar-se o mais fraco dos santos” (William Neil, comp., Concise Dictionary of Religious Quotations, [1974], p. 144).
Que não negligenciemos nossas orações familiares. Elas são um inibidor eficaz contra o pecado e, portanto, a melhor e mais produtiva fonte de alegria e felicidade. O velho ditado ainda é verdadeiro: “A família que ora unida permanece unida”. Ao darmos o exemplo da oração aos nossos filhos, estaremos também os ajudando a iniciarem o aprofundamento do próprio alicerce de fé e testemunho, do qual precisarão durante toda a vida.
Minha segunda diretriz: Que estudemos as escrituras e “meditemos nelas dia e noite”, conforme aconselhado pelo Senhor no livro de Josué 1:8.
Em 2005, centenas de milhares de santos dos últimos dias aceitaram o desafio do Presidente Hinckley de ler o Livro de Mórmon até o final aquele ano. Acredito que dezembro de 2005 bateu o recorde de horas dedicadas para vencer o desafio no prazo. Fomos abençoados ao completar a tarefa; nosso testemunho se fortaleceu, nosso conhecimento aumentou. Quero incentivar todos nós a que continuemos a ler e a estudar as escrituras, para que as compreendamos e apliquemos em nossa vida as lições que lá encontramos. Parafraseando o poeta James Phinney Baxter:
O que estuda e estuda, mas nunca aprende
É como o que ara e ara, mas nunca semeia.
(“The Baxter Collection”, Baxter Memorial Library,Gorham, Maine).
Empregar algum tempo por dia estudando as escrituras, sem dúvida, reforçará nosso alicerce de fé e nosso testemunho da verdade.
Lembrem-se comigo da alegria que Alma sentiu ao viajar da terra de Gideão para o sul, em direção à terra de Mânti e encontrar os filhos de Mosias. Havia algum tempo que Alma não os via e sentiu-se muito feliz ao descobrir “que eles ainda eram seus irmãos no Senhor; sim, e haviam-se fortalecido no conhecimento da verdade; porque eram homens de grande entendimento e haviam examinado diligentemente as escrituras para conhecerem a palavra de Deus” (ver Alma 17:1, 2).
Que possamos também conhecer a palavra de Deus e conduzir nossa vida de acordo com ela.
Minha terceira diretriz para a edificação de um firme alicerce de fé e testemunho envolve o serviço.
Certa manhã, enquanto dirigia para o escritório, passei por uma tinturaria onde havia uma placa na janela. Lá se lia: “É o Serviço Que Conta”. A mensagem da placa simplesmente não me saía do pensamento. De repente, lembrei-me por quê. De fato, realmente, é o serviço que conta — o serviço do Senhor.
No Livro de Mórmon, lemos a respeito do nobre rei Benjamim. Com a verdadeira humildade de um líder inspirado, ele expressou o desejo de servir a seu povo e de guiá-lo nos caminhos da retidão. Declarou-lhes:
“Eis que vos digo, ao afirmar-vos haver empregado meus dias a vosso serviço, que não é meu desejo vangloriar-me, porque só estive a serviço de Deus.
E eis que vos digo estas coisas para que aprendais sabedoria; para que saibais, que quando estais a serviço de vosso próximo, estais somente a serviço de vosso Deus” (Mosias 2:16–17).
Esse é o serviço que conta, o serviço para o qual todos fomos chamados: o serviço do Senhor Jesus Cristo.
Ao longo do caminho da vida, notaremos que não somos os únicos viajantes. Existem outros que precisam de ajuda. Existem pés a ser firmados, mãos a segurar, mentes a incentivar, corações para inspirar e almas para salvar.
Há treze anos, tive o privilégio de dar uma bênção a uma linda jovenzinha de 12 anos de idade, Jami Palmer. Os médicos diagnosticaram um câncer em seu organismo, e ela se sentia assustada e confusa. Precisou submeter-se a uma cirurgia e a uma dolorosa quimioterapia. Hoje, ela está livre do câncer e é uma linda moça de 26 anos de idade e já realizou muitas coisas na vida. Há algum tempo, em sua hora de maior escuridão, em que qualquer possibilidade futura parecia cruel, ela soube que a perna, onde o câncer se alojara, exigiria múltiplas cirurgias. Aquela caminhada, há muito tempo planejada com sua classe de Moças, que seguiria por uma trilha acidentada até a Caverna Timpanogos — localizada nas Montanhas Wasatch, a 64 quilômetros ao sul de Salt Lake City, Utah — estava fora de questão, pensou. Jami contou às amigas que teriam que subir a trilha sem ela. Estou certo de que havia um nó em sua garganta e decepção no coração. Mas aí as outras jovens responderam enfaticamente: “Não, Jami; você vai conosco!”
“Mas não posso andar”, foi a resposta angustiada.
“Nesse caso, Jami, carregaremos você até o topo!” E foi o que fizeram.
Hoje, a caminhada é só uma recordação mas, na realidade, é muito mais. James Barrie, poeta escocês, declarou: “Deus deu-nos recordações, para que possamos ter as rosas da primavera no inverno da nossa vida” (paráfrase de James Barrie, em Laurence J. Peter”, comp. Peter’s Quotations: Ideas for Our Time [1977], p. 335). Nenhuma daquelas preciosas jovens jamais se esquecerá daquele dia memorável em que um Pai Celestial amoroso olhou para baixo com um sorriso de aprovação e grande satisfação.
Ele, ao alistar-nos na Sua causa, convida-nos a achegar-nos a Ele e a sentir Seu Espírito em nossa vida.
Ao estabelecermos um firme alicerce em nossa vida, lembremo-nos de Sua preciosa promessa:
Se Deus é convosco, a quem temereis?
Ele é vosso Deus, seu auxílio tereis.
Se o mundo vos tenta, se o mal faz tremer,
Com mão poderosa vos há de suster.
(“How Firm a Foundation,” Hymns, no. 85)
Que cada um se qualifique para merecer essa bênção. É minha humilde oração, em nome de Jesus Cristo, nosso Salvador. Amém.
Eu amo Pai Celestial sem ele não sou ninguém. Também amo os discursos do nosso Profeta Thomas S Monsom